segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

De Pernas Pro Ar

Um filme nacional que ousa um pouco mais na sua proposta, mas no final acaba sendo mais um no meio de vários, justamente por tentar seguir essa linha. Um dia a gente ainda consegue.


De Pernas Pro Ar (2010)
Direção: Roberto Santucci
Um filme com potencial, mas que acaba deixando a desejar por tentar ser um filme normal, daqueles que você assiste mais para se divertir do que outra coisa.
Ingrid Guimarães faz uma funcionária que só pensa em trabalho, ao ponto que seu marido pede a ela um tempo na relação. Ao perder seu emprego, ela encontra ajuda na personagem de Maria Paula, que a faz reconhecer o que faltava em sua relação: sexo. Então ela se torna sócia do sex shop da nova amiga e o torna um sucesso.
Ingrid Guimarães consegue levar o filme como protagonista. Sua atuação é boa o suficiente para isso. Bruno Garcia, fazendo seu marido, se sai bastante bem. É um ator do qual eu gosto, sempre faz bons papeis. Maria Paula é uma escolha acertada para o papel de dona de sex shop. Apesar de sua atuação não ser a melhor do filme, pelo menos ela combina com a personagem.
Os outros atores estão todos bons em suas participações. Flávia Alessandra fazendo uma ponta rápida, mas importante. Antonio Pedro e Cristina Pereira roubam algumas cenas, e o garoto também é muito bom.
O tema é uma boa ideia dos idealizadores do filme. O filme fala de sexo abertamente, mostra os mais variados tipos de brinquedos eróticos e brinca com todos os conceitos do assunto. O problema é que o filme, mais para o final, deixa de focar toda a graça causada por vibradores e acessórios para se concentrar no relacionamento do casal protagonista e em como eles pretendem retomar o casamento. Caso o filme fosse uma comédia romântica com mais comédia do que romance, ficaria muito bom. Material para isso não faltava.
Em relação à própria comédia, o filme tem altos e baixos. Existem momentos em que você ri muito, e tem momentos em que você nem ri. O filme é dividido entre várias piadas que são muito previsíveis e as que conseguem manter seu segredo. Você pode ver isso na cena em que a personagem de Ingrid vai usar um coelho de brinquedo erótico (você leu certo) pela primeira vez. A piada em que ela o chama de gato para depois corrigir, dizendo coelho, é totalmente previsível. Mas quando você pensa que a piada acaba por aí, o que vem a seguir te faz gargalhar de verdade.
Muito divertido de se ver, também, foi a cena inspirada dos roteiristas em fazer a protagonista tentar explicar como é um orgasmo, só para que, mais à frente no filme, ela tenha um e ele seja mostrado da maneira como ela tentou descrever antes. Boa ideia, essa.
Esse filme, para mim, tinha muito mais potencial do que o mostrado na versão final. Com um tema como esses sendo falado abertamente, e com um grande material para piadas, o filme se sairia melhor se não tentasse se dividir entre os dois temas de uma comédia romântica, e se concentrasse mais no lado comédia. Mas claro que vale uma conferida.


sábado, 29 de janeiro de 2011

Tá Rindo do Quê?

Mais um problema com tradução de nome. Na versão dublada eles dizem Gente Engraçada, mas em qualquer outro lugar (inclusive no DVD) é Tá Rindo do Quê?. Acho que eles mudaram o nome no meio do caminho, já que o filme chegou por aqui só em DVD.


Tá Rindo do Quê? (Funny People, 2009)
Direção: Judd Apatow
O que aconteceu com Judd Apatow? Ele fazia comédias incríveis. Dirigiu um dos filmes mais geniais dos últimos tempos, O Virgem de 40 Anos, e depois Ligeiramente Grávidos, que eu ainda não vi, mas todos dizem que é muito engraçado. Além de produzir diversas comédias divertidas. Mas não essa.
Adam Sandler é George Simmons, um famoso ator de comédia e stand-up comedian que recebe a notícia que tem um tipo raro de leucemia. Então ele começa a ficar depressivo e a tentar aproveitar seus últimos dias, e conhece Ira Wright, personagem de Seth Rogen, um novato que quer fazer stand-up, e eles se tornam amigos.
É uma grande ideia fazer um filme sobre o mundo do stand-up, tão na moda hoje em dia. Mas só o pano de fundo é comédia. O filme mesmo é um drama. E isso pode confundir um pouco as pessoas.
O filme não faz rir em quase nenhum momento. Esses momentos são só durante alguns trechos de stand-up mostrados, e são poucos. O filme tem um clima pesado, é meio parado. As coisas vão acontecendo, acontecendo e parece que não aconteceu nada, só em determinados momentos-chave.
Tem ainda George Simmons querendo voltar com sua ex-namorada, que agora é casada. Então acontece muita confusão com o casal. A história é bem interessante, que seria bem contada por algum diretor, que já fizesse histórias dramáticas e soubesse lidar com elas. Aliás, um que soubesse que um filme sobre esse assunto, e tão parado, não devesse ter toda essa duração. O filme tem 2 horas. Se tivesse meia hora a menos, ficaria melhor. As coisas são começam a acontecer realmente lá para o final do filme.
O que não salva o filme de ser uma bomba são seus atores. Temos aqui atores de alta qualidade, todos fazendo bons papeis, e a maioria já trabalha com Apatow desde sempre: Adam Sandler, Seth Rogen, Leslie Mann, Eric Bana, Jonah Hill, Jason Schartzman, Aubrey Plaza, Aziz Ansari e várias participações especiais interpretando elas mesmas. Um elenco com alguns dos melhores comediantes hoje em dia, fazendo seus papeis engraçados, mas que perdem metade da graça devido ao filme. Inclusive, as piadas grotescas sobre sexo e membros do corpo, que Apatow fazia soarem engraçadas e naturais em outros filmes, neste são apenas grotescas.
Além de apresentações de stand-up, são mostradas partes dos filmes ficcionais de George Simmons. Esses são bem engraçados, e inclusive fizeram parte da campanha de divulgação, mostrando clipes de filmes dele que parodiam vários filmes existentes. Talvez isso tenha feito com que eu criasse outra expectativa quanto ao filme.
Eu não sei o que deu em Judd Apatow. Um grande diretor e produtor de comédias resolve fazer um filme tão dramático e sem energia quanto esse. A história de um drama sobre pessoas cômicas ficaria boa se não tivesse ficado estranho.


sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Entrando Numa Fria Maior Ainda Com a Família

Vejam o problema ao mudar demais o nome de um filme na tradução. Ao mudar o nome do primeiro filme de Meet the Parents para Entrando Numa Fria, eles não esperavam que houvesse continuações. Em um lampejo de criatividade, eles resolveram aumentar o nome do filme a cada continuação. E agora, o terceiro filme, que tem o menor nome da série no original, tem um nome gigante em português.



Entrando Numa Fria Maior Ainda Com a Família (Little Fockers, 2010)
Direção: Paul Weitz
Sou um fã dessa série. Entrando Numa Fria é um filme de comédia genial, um dos melhores do gênero comédia de situação. Entrando Numa Fria Maior Ainda, apesar de ser inferior ao primeiro, também considero muito bom. Agora, esse terceiro filme seguiu o fluxo de queda de qualidade.
(Já deixo avisado aqui minha preferência pelo nome da família na versão dublada, Pinto. Muito mais engraçado e real do que o da versão legendada, Fornika. Usarei Pinto no texto. E ficou estranho o que eu falei.)
No aniversário de 5 anos dos gêmeos de Greg e Pam, toda a família se reúne para a festa. Mas Jack ainda acha que Greg não é bom para sua filha, e pensa que ele tem um caso com a vendedora Andi Garcia, e continua o investigando.
Eu não me admiro que o filme esteja concorrendo ao Framboesa de Ouro por Pior Roteiro. O roteiro é feito só para ter mais um filme e poder jogar mais piadinhas para o público. Jessica Alba foi indicada não só por esse filme, mas pelo seu conjunto da obra em 2010, apesar de ela estar normal aqui. Agora, indicar Barbra Streisand a pior atriz coadjuvante é palhaçada. Deixa ela se divertir.
Eu acho que, se eu não fosse fã da série, como disse, eu não acharia o filme tão bom ou engraçado. Talvez para os não-fãs, esse filme não seja tudo aquilo. Ele tem muito menos piadas boas que os anteriores, e às vezes não te conseguem fazer rir. O meu nível de gargalhada no primeiro filme era muito alto, no segundo era normal, e nesse é pequeno.
Um dos problemas pode ser a mudança de diretor. Saiu Jay Roach, que comandava muito bem a série (e que é também diretor da trilogia Austin Powers) e preferiu ir dirigir Um Jantar Para Idiotas, e entrou Paul Weitz, diretor conhecido pelo primeiro American Pie.
E acho que é justamente isso o que ele fez: tentou trazer um pouco de American Pie a Entrando Numa Fria. Mas, para mim, não funciona. Tem uma cena em que Greg, depois de descobrir que vai ser o próximo na linhagem da família Byrnes a ser o chefe (e Jack o chama de The Godfocker), ele imita os jeitos do Poderoso Chefão e pede ao seu filho que coma a lasanha. A cena seria engraçada se terminasse por aí, mas logo depois o filho vomita a comida nele. Desnecessário e não engraçado.
Mas eu ainda me divirto com as piadas envolvendo os trocadilhos com o nome Focker (ou Pinto, ou Fornika). Eu fui o único no cinema que riu no cinema quando Jack chamou Greg de Pinto na ambulância, e os enfermeiros perguntaram: "Porque ele está xingando? Estamos salvando a vida dele".
Igualmente legal é eles darem o nome da personagem da Jessica Alba de Andi Garcia e não exagerarem nos trocadilhos, então não se torna cansativo. Eu só me lembro de duas piadas com o nome dela, e, apesar de uma se tornar previsível, ainda acho graça. Ao Jack pesquisar o nome dela no Google, ainda rio com os resultados "Você quis dizer: Andy Garcia" e "Andy Garcia: Ator". E também achei bem bolado Jack descobrindo o que é o Google.
Já que estamos falando de Robert DeNiro, quando ele começou a se auto-parodiar, imitando seus personagens e caretas ao longo de sua carreira, em filmes como Máfia no Divã e, inclusive, o primeiro Entrando Numa Fria, achei tudo muito divertido e original. Mas agora parece que ele não tem outra cara, ele fica o filme inteiro com sua cara fechada característica, não relaxa um momento. Isso me incomodou um pouco.
Fechando o elenco ainda temos Owen Wilson, em uma participação maior, porém menos divertida, que nos outros filmes. E temos Barbra Streisand e Dustin Hoffman fazendo pontas em que parecem se divertir bastante, apesar de vermos que o roteiro abre brechas para que eles apareçam, já que eles não iriam participar do filme até as filmagens terem começado. Isso pode ser visto na história na parte onde o pai de Greg diz que não vai ao aniversário porque está na Espanha fazendo aulas de flamenco, e quando aparece são em partes solitárias do filme. Mesmo assim, os dois continuam excêntricos o suficiente para divertir em suas rápidas aparições. Teri Polo e Blythe Danner fazem papeis normais e estão normais.
Como eu já disse lá em cima, se você for um fã da família Pinto, você tem chances de gostar do filme. Não recomendo que você comece por este filme, assim como eu comecei a ver pelo segundo, as chances são maiores que você não queira ver mais nenhum depois. Se você não gosta dos outros, não assista esse. Se eu não fosse fã dos outros, não teria gostado desse.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O Turista

O primeiro filme que vi no cinema esse mês. E o primeiro também esse ano. E o primeiro com 19 anos, feitos ano passado. Sim, eu fiquei um tempo sem conseguir ir ao cinema. Só espero que não fique de novo. E comecei com um filme na média, de um diretor com um nome maior que segunda-feira.


O Turista (The Tourist, 2010)
Direção: Florian Henckel von Donnersmarck
O diretor alemão de nome gigante, que nem ouso repetir aqui, é ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro por A Vida dos Outros. Por isso, foi convidado a ir para Hollywood. Então resolver fazer seu próximo filme com duas estrelas renomadas. E foi isso.
No filme, Johnny Depp é Frank Tupelo, um turista que é envolvido em uma trama armada por Elise Ward, personagem de Angelina Jolie, que faz com que todos pensem que Frank é seu namorado criminoso para despistar o paradeiro do verdadeiro.
E assim temos um filme que figura na lista dos normais. Ele não tem uma história genial, nem personagens marcantes. Ele é mais um do gênero.
Angelina Jolie faz a inglesa fina e elegante, e está linda. Johnny Depp vive um de seus poucos papeis normais, e eu gosto de ver ele nesses momentos, acho que ele se sai bem. Claro que, na hora de sair correndo em determinado momento, ele não desperdiça a oportunidade de imitar Jack Sparrow.
Mesmo assim, ele interpreta bem o tipo quieto e assustado, e Jolie está estonteante, aplicando um pouco do que ela já fez em filmes de ação.
O legal do filme é você ver que o plano de Alexander, o namorado criminoso de Ward, não dá muito certo, porque desde o começo a polícia já sabe que Frank não é o criminoso. O problema é que Sebastian Shaw, o gângster de quem ele roubou dinheiro, acha que é. E aí tem o problema dos russos, os vilões, serem muito caricatos nesse filme. O filme não é caricato, então eles ficam um pouco deslocados.
E depois de uma reviravolta estranha no final, mas que combina com o filme normal que esse é, o filme conta ainda com incríveis paisagens de Veneza, onde se passa o filme. O filme tem dois grandes astros da atualidade, e infelizmente acharam que eles sozinhos segurariam a história. Falta algo ainda. Algo que fosse tão belo quanto Veneza no filme. Mas continua sendo um filme bom de ver.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

O Último Golpe

Mas olha só, olha só. Temos um novo design aqui no blog. Tudo bem, você pode dizer que é praticamente igual ao antigo, mas me deixe ser feliz e ficar contente com meu árduo trabalho. Eu até resgatei um filme que já faz um tempinho que eu vi só para estrear aqui.


O Último Golpe (The Last Time, 2006)
Direção: Michael Caleo
Um filme que me surpreendeu um pouco. Eu não sabia o que esperar dele, e ele se revelou um filme bem interessante. Tem uma boa história.
No filme, o personagem de Brendan Fraser é contratado por uma empresa da cidade grande por ser um bom vendedor, e tem como parceiro o vendedor veterano feito por Michael Keaton. Enquanto Fraser não consegue ser bem sucedido, Keaton vai se apaixonando pela esposa do mesmo.
Ele me surpreendeu porque eu não esperava essa história. Eu não tinha expectativas quanto ao filme. De repente, o colega de trabalho de Fraser, todo bem sucedido, começa a se apaixonar pela esposa do seu colega. E ela começa a corresponder. Então os dois começam a se encontrar e a viver um romance proibido, enquanto Fraser vai se acabando mais e mais, não conseguindo fazer uma venda sequer, se deprimindo todo.
Isso faz com que Keaton tente ajudá-lo, para que Fraser não seja despedido e para que ele mesmo possa continuar vendo a mulher que está amando.
Um filme bastante agradável, que te mantém assistindo querendo saber o que vai acontecer. Ele vai ser despedido? Ele vai descobrir a traição? E agora?
Se eu deixasse escapar algo do final desse filme em especial nesse texto, o final perderia todo o seu sentido. Sem revelar nem um mínimo, preciso dizer que ele deu uma desapontada. O final do personagem de Keaton é o que se espera dele, pelo que ocorre no filme. O personagem de Fraser é o que te surpreende, e foi um final bem interessante de se ver. Agora, o personagem de Amber Valletta, a esposa de Fraser, foi o que me decepcionou. Achei um pouco clichê, seria muito mais legal se não acontecesse o que acontece.
Mas mesmo assim, é um filme que vale a pena, tem uma boa história de romance, de suspense, e vai te deixar pensando no que virá em seguida, e em seguida.


domingo, 16 de janeiro de 2011

A Cartada Final

Olha só o elenco: Edward Norton, Robert DeNiro e Marlon Brando! São praticamente três gerações de atores. Em um filme estreladíssimo que não faz feio, mas precisava de mais que só bons atores.


A Cartada Final (The Score, 2001)
Direção: Frank Oz
Um filme normal com um elenco muito bom. Não seria melhor o contrário?
No filme, o personagem de Marlon Brando faz o veterano ladrão interpretado por Robert DeNiro trabalhar com o novato personagem de Edward Norton, no que será seu último golpe, mas também o mais arriscado, já que é na sua própria região.
Só para constar: quantos filmes, geralmente os que envolvem ladrões e crimes, contam a história do último trabalho de alguém? É sempre o último trabalho, nunca é mais um que o sujeito fará. Acho que se tenta dar uma dimensão maior ao dizer que é o último, pois assim ele deve ser muito bem feito e podemos nos identificar com o personagem principal ao vermos que ele quer largar a vida de crimes.
Depois desse desabafo, posso dizer que esse não é um filme ruim. Ele só comete o erro de jogar todo o peso nas costas dos atores que conseguiram. Afinal, com Brando, DeNiro e Norton, quem vai prestar muita atenção no resto?
O pior é que a resposta para isso é: todo mundo. Já disse que não é um filme ruim, mas é uma história que já foi contada diversas vezes. É o planejamento de um roubo, por uma dupla, que planeja tudo nos mínimos detalhes, algo inesperado acontece mais para o final e por aí vai.
O roubo é bom, a execução é boa, o planejamento é bom. Marlon Brando não faz um personagem principal e está bom em sua ponta. DeNiro está com mais uma atuação boa na sua carreira, sem se preocupar muito com um desafio. Ou seja, no final das contas, é um filme bom.
O que é, de fato, acima do bom usual desse filme, na minha humilde opinião, é a atuação de Edward Norton, que atropela a de Marlon Brando e até a de Robert DeNiro. Eu gostei bastante de sua atuação, onde seu personagem finge todos os dias que é uma pessoa com problemas mentais para trabalhar no lugar onde será realizado o crime. Achei uma boa atuação dele, e está até que convincente.
No fim, é apenas mais uma história de roubo, que achou que ganharia o público pelos atores. Falta algo mais. Mas nunca disse que é um filme ruim. Ainda vale a pena assistir.


domingo, 2 de janeiro de 2011

Scott Pilgrim Contra o Mundo

Fico muito feliz de este ter sido o primeiro filme que eu vi em 2011 e a primeira crítica aqui no blog também. Bem vindos a 2011, meus caros leitores. Vamos manter a qualidade do ano passado por aqui. Falo como se eu tivesse milhares de leitores e isso aqui tivesse alguma qualidade.


Scott Pilgrim Contra o Mundo (Scott Pilgrim vs. the World, 2010)
Direção: Edgar Wright
Tiro o chapéu para esse filme. Ele mudou o meu modo de ver cinema. Traz uma das propostas mais inovadoras dos últimos tempos e uma história digna de apreciação. Além de referências e homenagens a beça.
Scott Pilgrim é um rapaz que vai conduzindo sua vidinha preciosa. Até que ele conhece Ramona Flowers e se apaixona. Porém, ele descobre que, para ficar com ela, ele deverá derrotar os sete ex-namorados malignos da garota.
Já disse que o filme é espetacular. O seu jeito de contar a história é surpreendente. Ele traz características e faz homenagens a todas as outras áreas do entretenimento: quadrinhos, videogames, música e mais.
Há sempre textos durante o filme que vão te explicar alguma coisa, ou definir um personagem, agindo exatamente como os textos em uma história em quadrinhos. Além das onomatopéias espalhadas por todo o filme, a cada soco ou batida.
Lutas que lembram muito a de animes ou os próprios jogos de luta, com combos, pontos e, no final de cada luta, o adversário se transformando em moedas.
O filme usa uma versão 8-bit, ou seja, aquela dos tempos dos primeiros videogames, do logo da Universal logo no começo, muito bom. Ainda aproveita e usa a própria música da Universal para a apresentação de Lucas Lee, um dos ex-namorados, que é ator.
No meio de tudo isso, há espaço também para homenagear os filmes de Bollywood, durante um musical, e séries de TV, especificamente Seinfeld, em uma cena que imita todo o jogo de câmeras, situações e inclusive risadas de fundo de uma sitcom.
Tudo nesse filme mantém esse estilo sensacional que transforma o filme em um dos mais revolucionários do nosso tempo, introduzindo um mundo no cinema totalmente baseado em outras mídias. Aposto que muita gente pensou que isso não tinha como acontecer.
Os atores são muito naturais em todos os papeis. Michael Cera é Scott Pilgrim, o papel de sua vida, e Mary Elizabeth Winstead é Ramona. E o filme conta com vários atores de peso fazendo ex-namorados malignos, como Chris Evans, Brandon Routh e Jason Schwartzman.
Os efeitos especiais devem ser mencionados, pois tudo no filme é natural, e isso inclui até os letreiros, onomatopéias e desenhos que aparecem na tela, como se realmente pertencessem àquele mundo. Todas as lutas parecem reais, sendo também bem coreografadas e executadas. A edição do filme é algo fora do comum, conferindo o corte certo para que Scott Pilgrim se assemelhe com videogames e quadrinhos.
No campo das referências, espere de tudo: há o famoso locutor de Street Fighter fazendo seu "K.O." ao final das batalhas, sinais de mão como Naruto, coisas na tela tiradas direto dos games, como "Reversal", "x2 Bonus" e o "vs." entre os personagens antes de cada luta, elementos de RPG como subir de nível e as espadas que ele consegue, a "Poder do Amor" e a "Poder do Auto-Respeito", e uma vida extra. Coisa de louco o nível de informação que esse filme passa.
E, ainda, é um filme sobre o amor, sobre a conquista dele, sobre lutar pelo que você quer (no caso, literalmente). Disfarçando tudo isso em um filme com alta carga de nonsense. Por exemplo: Todd Ingram, o terceiro ex do mal, tem poderes psíquicos por ser Vegano, algo mais que um ovo-lacto-vegetariano. Nonsense puro.
Esse filme me conquistou tanto por fazer justamente o que eu acho que deve ser feito no cinema: extrapolar. Você tem em suas mãos uma ferramenta impressionante, que pode dar vazão a toda sua criatividade, criar mundos inteiros, situações inconcebíveis no nosso limitado mundo real. No cinema, pode-se tudo, basta você querer. E Scott Pilgrim veio mostrar que tem gente com coragem para isso, para sair do mesmo, e fazer um filme com pessoas e situações e coisas inimagináveis. Se você tem na mão um criador de mundos, aproveite.
Por tudo isso que eu citei, ele se junta a Mandando Bala e Encantada como os filmes recentes que eu mais admiro e que desafiam as regras para fazer algo que só é possível no cinema. Parabéns a Bryan Lee O'Malley por criar a história em quadrinhos e a Edgar Wright, o diretor, e a todos os envolvidos por esse clássico do cinema moderno e por fazer um mundo tão surreal parecer real aos nossos olhos. Esse filme merecia alguns Oscars, mas isso não deve acontecer, muito infelizmente.