sábado, 19 de março de 2011

Bruna Surfistinha

Trocadilhos, trocadilhos... eles me perseguem. Eu vou realmente tentar não usá-los aqui nesse texto. De verdade, isso não vai acontecer. Não vou dizer que este é um puta filme. Ah não, já foi.


Bruna Surfistinha (2011)
Direção: Marcus Baldini
A redenção de Raquel Pacheco está feita. Depois de três livros e várias aparições na mídia para tentar provar que é uma moça de família que saiu da vida de prostituição, esse filme é a melhor jogada de todas em busca da aceitação.
Raquel é uma garota da classe média que um dia foge de casa para se tornar uma prostituta. Aos poucos vai ganhando mais e mais destaque até se tornar a número um do ramo, assumindo o nome Bruna Surfistinha. É onde decide criar um blog que faz muito sucesso e a faz alcançar a fama.
O filme de estreia de Marcus Baldini é bom. Conta uma história boa, tem boa direção, boas interpretações e funciona bem. O problema dele é, como dito ali em cima, que ele tenta transformar Raquel/Bruna em uma pessoa em que devemos sentir dó, que no final é feita vítima do mundo da prostituição, para que ela possa passar pelo arco de ascensão e queda e que nós torcemos para que tudo dê certo no filme. Mas na vida real as coisas foram um pouco menos dramáticas.
Durante todo o filme ele tenta ser uma história de superação, não tão escancarada quanto outras, mas tenta. Então, mais perto do final, você já está esperando que ela vença e tudo dê certo.
O filme só não fracassa por um motivo: Deborah Secco. A atriz faz um dos melhores personagens de sua vida, e uma das melhores atuações também. Ela carrega o filme inteiro nas costas. Deborah Secco consegue fazer Bruna em diferentes épocas de sua vida, e em diferentes situações. Basicamente são quatro fases bem definidas: a adolescente tímida; a mulher depois de virar prostituta; no auge da carreira e da fama; e a derrotada viciada. E ela consegue fazer todos os papeis convincentemente.
Mas não só a atuação de Deborah está muito boa, todas as atuações do filme são boas. Drica Moraes faz uma boa cafetina, enquanto Cássio Gabus Mendes mostra sua simpatia de sempre ao interpretar o cliente carinhoso que sempre volta. Todo o resto do elenco também é bom.
E claro, se você for assistir à história de vida de uma prostituta, não espere que o filme não tenha sexo. Tem bastante, e cenas bem feitas. Mas nada que saia fora do normal, sempre em momentos em que eles são necessários. O filme todo, praticamente.
O filme sofre mesmo por causa dessa dramatização, a tentativa de redenção e de tentar criar um arco dramático forçado. Nada explica, no filme, porque ela decide fugir de casa e ser prostituta. Há abusos, mas nada descomunal. O filme também deixa de lado o porquê de ela escolher o nome Bruna Surfistinha. Ela simplesmente escolhe o nome Bruna ao acaso, e depois a informação de que os clientes dela achavam que ela tinha cara de surfista é jogada no filme. A própria explicou o motivo muito melhor em uma entrevista.
Se você for ver o filme, não se engane. Não é nenhuma obra-prima do cinema brasileiro. É apenas uma diversão passageira com uma história interessante, que se torna boa devido a uma excelente atuação. E tenho dito.


sexta-feira, 18 de março de 2011

Rango

Esse filme é marcado por várias coisas que aconteceram pela primeira vez. Já estamos quase terminando março e este é o primeiro filme de 2011 que assisto. Foi a primeira vez que vi um filme em uma sala de cinema vazia, somente eu ali. E é o primeiro filme de animação da Industrial Light & Magic, que estreia nesse ramo com tudo.


Rango (Rango, 2011)
Direção: Gore Verbinski
Uma animação dirigida pelo diretor da trilogia Piratas do Caribe e com Johnny Depp fazendo a voz do personagem principal. Se eles já demonstravam se entender nos três filmes de Jack Sparrow, aqui a história não muda.
Um camaleão com problemas de personalidade, após um acidente, acaba parando na cidade faroéstica de Poeira, onde assume a identidade de Rango e se torna o novo xerife.
Lembra de outro estúdio que, ano passado, estreou no mundo das animações? Isso mesmo, a Illumination Entertainment com seu Meu Malvado Favorito. Se aquela foi uma boa estreia, a Industrial Light & Magic teve uma estreia espetacular. A empresa, que já vem há anos fazendo os melhores efeitos especiais do mercado, resolveu partir para o mundo das animações também. E não ficou devendo nada para ninguém.
Talvez a melhor estreia de um estúdio desde que a Pixar nos trouxe Toy Story. E já que estamos comparando, Rango tem a qualidade técnica comparável à própria Pixar, realmente muito boa. Até a animação de humanos, que aparecem muito pouco no filme, é muito bem feita.
A história já é interessante por ser a de um camaleão buscando uma identidade, algo que, considerando que um camaleão consegue se passar por outras coisas, é bem pensado. E assim como o personagem principal, todos os cidadãos de Poeira são igualmente bem construídos e englobam todos os tipos de personagens de um faroeste.
O filme é, ao mesmo tempo, uma paródia e uma homenagem aos clássicos filmes de Velho Oeste. E ele consegue repetir o sucesso de um filme que usou a mesma abordagem há 20 anos: De Volta Para o Futuro 3. E se estamos falando em comparações, uma coisa que o filme faz muito bem são as homenagens que não só aparecem em uma hora ou outra, mas conduzem o filme inteiro. Inclusive, quando Rango consegue encontrar o grande Espírito do Oeste, ele é claramente baseado e "nomeado" a partir de um dos maiores ícones dos westerns.
O filme consegue juntar vários gêneros em um só. Ele é bem reflexivo, tem muita ação, tem muitas risadas e é um bom drama ao mesmo tempo. Há elementos do filme essenciais a um faroeste, como um roubo ao banco da cidade, em que a moeda de troca é a coisa mais importante para a cidade, a água. Uma cena mostra a influência do prefeito nos cidadãos de Poeira, em que age como um pastor religioso e os cidadãos como seus fiéis, enquanto o prefeito faz, praticamente, uma cerimônia de distribuição de bênçãos, que aqui seria a água.
A trilha sonora do filme também é excelente. Feita pelo veterano Hans Zimmer, que aqui presta homenagem às clássicas músicas dos faroestes. Além disso, há várias músicas que são cantadas por quatro corujas mariachis, que são as contadoras da história de Rango. As composições instrumentais são tocadas por Rick Garcia, enquanto as músicas cantadas são tocadas por Los Lobos. Além disso, ainda, o filme usa, em um momento, duas grandes óperas em uma cena de ação maravilhosa, que faz referência a mais de um filme em uma mesma cena. Uma das óperas é a grandiosa "Cavalgada das Valquírias", que combina demais com a cena.
O próprio design dos personagens foge um pouco à regra das animações. Rango possui olhos bem pequenos, diferente dos grandes olhos comuns em desenhos, e boca bem grande, o que é justo, já que é um personagem que está sempre falando. Os animais são mais parecidos com os reais e não são exatamente bonitos, são simpáticos, o que confere maior realidade ao filme.
E, para terminar, a dublagem do filme em português é excelente. Uma das melhores que eu vi nos últimos tempos, não devendo nada ao grande elenco de estrelas que dubla o filme no original. Os sotaques estão muito convincentes e engraçados.
Rango é um filme excepcional. Além da Pixar e seu Carros 2, não vejo outra animação esse ano que possa rivalizar com esta. Desde agora já é uma grande indicação ao Oscar de Melhor Animação.


segunda-feira, 7 de março de 2011

O Último Samurai

No Japão, 6 de outubro é um dia comemorativo chamado "Tomu no Hi", ou Dia do Tom. Ele foi designado em homenagem a Tom Cruise. Isso devido às várias visitas dele ao país e ao sucesso desse filme.

O Último Samurai (The Last Samurai, 2003)
Direção: Edward Zwick
Um filme americano cultuando a cultura japonesa e, principalmente, os honrados samurais que viveram no Japão. Uma boa homenagem.
Tom Cruise é Nathan Algren, um militar americano que é contratado para treinar as tropas japonesas contra os samurais. Após ser capturado em batalha, Nathan aprende os costumes e culturas dos samurais e luta do lado deles, se tornando um.
É a história de uma pessoa que acaba indo parar em um vilarejo afastado, tradicional, e que acaba descobrindo um modo de vida simples e reavalia seus valores. Todos nós já vimos essa história. Seja em outros filmes, em livros, em contos de fadas e até na vida real. É um dos sistemas mais básicos de montar uma história. Porque funciona. Até a Pixar já usou essa fórmula, só para citar um dos maiores e melhores estúdios do mundo. Repare na similaridade deste filme e Carros.
A questão desse tipo de história não é a história em si, mas como ela é contada. É preciso personagens interessantes, uma trama bem amarrada, ambientação certa. E O Último Samurai é bem contado.
Quando Nathan é capturado pelos samurais, ele passa a conhecer mais sobre o modo de vida deles. E nós também. Há vários elementos mostrados em tela, vários hábitos, vários costumes. Nós vamos nos familiarizando com aquela sociedade e nos apegando a ela, e então começamos a torcer para que Nathan viva com eles e dê as costas ao mundo do qual ele veio.
O elenco do filme garante verossimilhança à sociedade japonesa da época, assim como os aspectos técnicos do filme. O Japão antigo está muito bem construído, tendo o filme garantido indicações ao Oscar por Melhor Direção de Arte e Figurino.
E falando no prêmio da Academia, quem mais foi indicado, na categoria de Melhor Ator Coadjuvante, foi Ken Watanabe, fazendo o líder dos samurais, Katsumoto. Belo feito, já que esse foi o primeiro trabalho do ator em inglês.
Tom Cruise não fica para trás e faz um ótimo protagonista, do mesmo jeito que ele sabe fazer em seus filmes de ação. É bem convincente todo o processo de reconhecimento de cultura do personagem dele, e ele até fala várias vezes em japonês.
O filme é muito bom. É uma história que se repete, mas que aqui vale a pena pela forma como é contada. Se os japoneses acharam bom o suficiente para dar um feriado a Tom Cruise, quem sou eu para discordar.