segunda-feira, 16 de julho de 2012

Say good night to the bad guy!

Em 2006, meu pai recomendou que eu alugasse Scarface, filme de 1983, que ele tinha visto quando era jovem. Disse que era um ótimo filme. Aluguei.
Depois de assistir ao filme, tive que discordar do meu pai. Não era um ótimo filme. Era o melhor filme que eu já tinha visto na vida. Era perfeito.

Não assisti mais ao filme desde aquela vez. Não o vi por seis anos. Seis longos anos. Não sei bem o porquê. Talvez eu tivesse medo de que o filme não fosse tudo o que eu achei, e que assistindo de novo eu ia perceber isso e era melhor ficar com a ideia que eu tinha na cabeça; ou talvez eu não quisesse achar erros ou motivos para não gostar dele; ou talvez eu tivesse muito mais o que fazer e ver (o que é real, em partes).

Durante esse tempo, fui me alimentando de informação sobre o filme. Li bastante coisa e joguei muito o excelente jogo que lançaram no mesmo ano que vi o filme, Scarface: The World is Yours.

Hoje coloquei meu blu-ray do filme (o primeiro da minha coleção!) e assisti à saga de quase três horas (mais especificamente, 2h50) de Tony Montana novamente. E Scarface continua sendo o meu filme preferido de todos os tempos.

Quer motivos? Pra começar, o roteiro de Oliver Stone. Conheço poucos roteiros assim. O próprio Stone escreveu o roteiro enquanto lutava para sair do seu vício em cocaína.
O filme é uma verdadeira ascensão e queda de um personagem. Você ama e odeia Tony Montana, você torce por ele e quer que ele se ferre, você sabe que ele está errado mas quer que ele se dê bem, você condena seus atos mas aplaude a sua moral. Sempre essa dualidade, sempre! É incrível!

Ele é o (anti-)herói que, com o tempo, se torna o vilão. É o pobrezinho que todo mundo quer ver se dar bem e que se torna o homem mais ridículo e sem escrúpulos que você vai conhecer. Esse é o brilhantismo do roteiro. No começo, ele é o coitado que quer crescer na vida, que só sabe matar e ser mau e usa isso pra tentar subir. Então ele consegue, e consegue cada vez mais e mais. A ganância e o poder tomam conta, ele fica paranoico, ele quer mais, ele não confia em mais ninguém e paga por isso.
Mas por que a gente não para de assistir o filme nessa segunda metade, quando ele é (pra usar seu próprio vocabulário) um cabrón? Ele tem sua moral, ele não mata crianças, e a gente se encanta por ele de novo.

A direção de Brian DePalma também é surpreendente! E vamos apenas ignorar que ele foi indicado ao Framboesa de Ouro como pior diretor aquele ano. Ninguém estava entendendo o filme, que para muitos era só um banho de violência e sangue, e era moda odiar o longa, e o Razzie vai com a modinha.

O começo (quase um documentário de Fidel Castro, Cuba e o caso do Porto de Mariel), para dar toda aquela ambientação ao filme, é uma ótima escolha. A cena do interrogatório, no começo, é perfeita. Câmera girando em torno do protagonista, indicando que ele está rodeado de inimigos (os policias da imigração). E já que a câmera fica sempre nele, que está sentado, nunca vemos a cara dos policias, sinal de que temos que temer essa situação.
Outra cena marcante é a da serra elétrica. Toda aquela tensão criada em torno da negociação e a verossimilhança da tortura são muito bem feitas. Quando Tony é amarrado e está prestes a ser cortado também, a câmera faz uma longa viagem do banheiro até o carro onde seu amigo Manny está esperando (e que deve ir até lá caso ele demore demais). Ele está xavecando uma garota da praia. A câmera volta lentamente ao banheiro. Durante todo esse processo o que se pensa é "ah, tá na hora do cara vir salvar ele, vai dar tudo certo. Ai não, ele tá distraído, não deu o tempo ainda. Não, não, não volta pro banheiro ainda, o Manny tem que saber... espera, ai não, já era!" Sensacional!

E temos o brilhantismo da atuação do gênio Al Pacino, um dos maiores atores dessa geração (e de muitas outras). A interpretação é tão incrível e marcante que você não vê Pacino, e sim um cubano em tela. O jeito, os maneirismo, a voz, a entrega dele é notável. É o papel da vida dele, até mais do que Michael Corleone da trilogia O Poderoso Chefão.
Junte ele com as maravilhosas frases e diálogos do roteiro de Stone e você tem bordões repetidos até hoje:
"All I have in this world is my balls and my word and I don't break them for no one";
"This town like a great big pussy just waiting to get fucked";
A que pra mim é uma das melhores cenas do filme, o discurso no restaurante que resume o que é o filme (sim, vou copiar o discurso inteiro!): "What you lookin' at? You all a bunch of fuckin' assholes. You know why? You don't have the guts to be what you wanna be? You need people like me. You need people like me so you can point your fuckin' fingers and say, "That's the bad guy." So... what that make you? Good? You're not good. You just know how to hide, how to lie. Me, I don't have that problem. Me, I always tell the truth. Even when I lie. So say good night to the bad guy! Come on. The last time you gonna see a bad guy like this again, let me tell you. Come on. Make way for the bad guy. There's a bad guy comin' through! Better get outta his way!"
E a clássica e fuckin' awesome frase "Say hello to my little friend!"

Por falar em fucking, o filme não segurou na violência (que recebeu três indicações indicativas X até conseguir a R para maiores de 17), mas também não poupou palavrões. A palavra "fuck" e seus derivados aparecem 226 vezes nas bocas dos personagens, o que dá uma média de 1.32 fucks por minutos. Foda, não?

A trilha sonora também é incrível - pelo menos para mim. Ela é tipicamente oitentista, e eu amo os anos 80 na música. Totalmente carregada de sintetizadores e composta inteiramente pelo compositor pop Giorgio Moroder, alguns podem se cansar depois de um tempo, mas eu acho que é por causa da trilha desse filme que eu amo tanto sintetizadores e anos 80.

Eu realmente não sei se consegui me expressar aqui no motivo porque eu amo tanto esse filme. Não dá para explicar mesmo. Eu sei que ele é incrível e isso é o que vale. Tentei uns argumentos críticos, tentei uns emocionais, tentei até curiosidades aleatórias.
Mas o que vale é que todos têm um filme favorito.

Scarface é o meu!
Acredite, porque "eu sempre falo a verdade, mesmo quando eu minto"!

PS: se está com preguiça de ver o filme, ou esperando o melhor dia para apreciá-lo, você pode assistir esse resumo, que condensa todos os fucks do filme.




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